Introdução
O lábio acetabular ou Labrum em latim (daí o nome lesão labral), é uma pequena fibrocartilagem triangular que fica na borda do acetábulo. Sua constituição é diferente da cartilagem da cabeça do fêmur e do interior do acetábulo, e se assemelha ao menisco dos joelhos. Na figura 1 pode-se observar como o Labrum está inserido em praticamente toda a margem do acetábulo, exceto na porção inferior ocupada pelo ligamento transverso. A figura 2 mostra o perfil do Labrum e sua relação com a cabeça femoral.
Figura 1: Nota-se o Labrum acetabular margeando a articulação e o ligamento transverso em sua porção inferior. O ligamento redondo esta seccionado apenas para fins didáticos.
No detalhe o perfil do Labrum acetabular mostrando seu aspecto triangular e a cobertura da cabeça do fêmur.
A figura 3 mostra uma fotografia obtida durante uma cirurgia por vídeo artroscopia observa-se o interior da articulação do quadril. Por causa dos instrumentos óticos existe um aumento de cerca de 30 vezes. O Labrum acetabular tem aproximadamente cerca de 2mm de largura apenas.
A função do Labrum acetabular ainda é motivo de pesquisas, e não se sabe ao certo para que serve esta estrutura no adulto. As teorias mais aceitas relacionam o Labrum acetabular com o aumento da cobertura da cabeça do fêmur (tabela), e com um mecanismo de selo hidrostático para manter a pressão do liquido sinovial dentro da articulação, o que diminuiria o desgaste da articulação.
A Tabela abaixo mostra a diferença da área e do volume do acetábulo com e sem o Labrum acetabular. Note que existe uma diferença significativa tanto da área quanto do volume com o Labrum acetabular presente.
Área do acetábulo
Sem Labrum: 28,8 cm² | Com Labrum: 36,8 cm²
Volume do acetábulo
Sem Labrum: 31,5 cm³ | Com Labrum: 41,1 cm³
Figura 2 – Corte Transversal da articulação do Quadril mostrando a localização do Lábio ou Labrum.
Figura 3: Fotografia de uma Videoartroscopia do quadril, mostrando o Labrum acetabular ( Lábio) e suas relações anatômicas com o acetábulo, a cabeça femoral e a cápsula.
Mecanismos de lesão
Congênito: Algumas crianças podem nascer com alterações da formação do acetábulo. Estes geralmente são mais rasos, e mais inclinados. Chamamos estas alterações de Displasias acetabulares. Pode haver também uma alteração do Labrum acetabular nestes casos.
Traumático: Diversos tipos de trauma são relacionados com a lesão do Labrum. Fraturas da bacia, fraturas do acetábulo, Luxação do quadril (deslocamento da articulação) são alguns exemplos. Diversos tipos de trauma sço relacionados com a lesão do Labrum. Fraturas da bacia, fraturas do acetábulo, Luxação do quadril (deslocamento da articulação) são alguns exemplos.
Impacto Femoro-acetabular: Este é o mecanismo mais frequente. Pode haver dois tipos : CAM e PINCER. Veja com detalhes em Impacto Femoro Acetabular no link abaixo.
Quadro clínico
A lesão labral geralmente provoca uma dor de intensidade fraca a moderada. A maior parte das vezes é mencionada como um desconforto. Pode as vezes iniciar de forma aguda, de intensidade mais forte, e depois manter-se apenas como um desconforto.
Geralmente tem frequência cíclica, ou seja, alterna períodos de melhora e piora, relacionados a atividade. Quanto maior atividade física pior a dor. Geralmente o repouso melhora a dor.
A dor ocorre com maior frequência para atividades físicas como caminhar, correr, saltar, mudança brusca de direção, entrar e sair do carro, sentar em lugares baixos, ficar muito tempo sentado ou na mesma posição. Em metade dos casos há dor durante a relação sexual dependendo da posição.
A dor geralmente localiza-se na parte anterior do quadril, na virilha, ou na face lateral quando associada a uma burstite ou tendinite. Raramente uma dor posterior (nádega) está relacionada ao quadril. Contudo, é comum a associação dos problemas do quadril com dores nas costas e ciatalgias (dor ciática).
A lesão pode ocorrer tanto em indivíduos completamente sendentários quanto aqueles que praticam esportes por prazer ou por competição (amadores ou profissionais).
Diagnóstico
O diagnóstico deve ser realizado inicialmente através do exame médico. Uma boa história do problema e um exame físico apurado é absolutamente FUNDAMENTAL. É comum pacientes trazerem exames de imagem mostrando lesões e o exame clínico ser normal. Ou seja, a queixa daquele paciente não estaria relacionada com o problema que aparece no exame. O médico deve relacionar a queixa do paciente com os dados da história e do exame físico e então comparar com os dados dos exames complementares.
As radiografias em diversas posições são imprescindíveis para o entendimento da geometria da bacia, e o diagnostico de alterações ósseas que possam provocar lesões como impacto femoro acetabular, displasias, além de afastar outras enfermidades ósseas.
Atualmente utilizamos também a Ressonância Magnética com contraste (ou Artro Ressonância). Preferimos a Ressonância com contraste, pois tanto a literatura médica quanto nossa experiência pessoal mostraram que tem maior sensibilidade para o diagnóstico das lesões labrais que a ressonância comum sem contraste.
A Tomografia Computadorizada não é um bom método para se observar o Labrum acetabular nem tampouco para o diagnóstico da lesão, mas pode ajudar no entendimento de algumas alterações do formato da bacia, e alguns autores acreditam que a Tomografia com contrate é melhor que a Ressonância Magnética para o diagnóstico de lesões da cartilagem do quadril.
A Ultrasonografia pode ser utilizada para o diagnóstico diferencial de problemas extra-articulares como tendinites, bursites, hérnia inguinal e outros.
Processo de reabilitação
Não existem medicamentos que tratem ou curem a lesão do lábio acetabular.
Geralmente há necessidade de um analgésico comum ou antiinflamatório para a dor. Ocasionalmente há necessidade de um analgésico mais forte.
Para as lesões de cartilagem que geralmente acompanham as lesões do lábio acetabular existem os condroprotetores ou protetores de cartilagem (sulfato de condroitina, sulfato de glicosamina, diascireína, ácido hialurônico e alguns fitoterápicos). Contudo, ainda não há consenso na literatura médica sobre a eficácia destes medicamentos. Não há provas de que eles realmente restaurem a cartilagem.